terça-feira, 19 de abril de 2011

Entranhas expostas

Tenho sempre muito medo que as minhas faltas e falhas hajam como um repelente para ti. Tenho medo que mudes, que depois de tantas horas de separação o teu riso não seja mais o mesmo, nem a tua voz, nem o teu íntimo. Também tenho medo do esquecimento, da inconsistência, das deformações mnésicas. Tenho medo que me aches inquisidora e que, portanto, nada partilhes. Tenho medo que me deixes para trás. Que me excluas da roda da tua existência. Receio que espalhes pelo vento os secretos segredos que deixei contigo.


E depois concluo que o que tenho, na verdade, é muito medo de mim.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Resposta: sim.

Há um ideal romântico associado às bicicletas: uma roda grande atrás, uma roda menor à frente, um cesto florido, um apoio para outras cargas, vento na cara, pisos planos, sorrir e cumprimentar a quem connosco se cruza na rua, entre outras coisas que tais. Ninguém menciona as mazelas nas pernas, fruto dos pedais que com elas chocam ou algum arame mais afiado, ninguém refere o esforço duplicado por cada rua mais inclinada, mesmo que ligeiramente, ninguém se lembra do suor, da vermelhidão no rosto, dos carros amedrontadores e velozes, dos passeios irregulares e apertados, dos parcos acessos para quem anda sobre rodas.



Não é assim tão simples ser ciclista na cidade, nem tão idílico como eu pensava. Agora sei que, enquanto desejava ardentemente uma bicicleta, não sabia o que pedia. Ainda assim, tive, e de graça (não são assim todas as bênçãos?). Utilizá-la como meio de transporte não é um trabalho ligeiro, como é passear pelo Parque das Nações; mas traz um sabor novo e bom, uma nova consciência, uma gratidão renovada.

Já posso pedalar todos os dias. Pastor Virgílio, muito obrigada!

sábado, 2 de abril de 2011

Casa.

A casa é um reflexo de quem a habita e das suas preocupações. Um dos meus maiores sonhos é ter uma casa, todos quantos me conhecem de verdade o sabem bem. Sonho com ela dia e noite, e apesar da incerteza que circunda este sonho, e de como ele se elabora com alguma volatilidade, há coisas tremendamente definidas no que à minha casa concerne:



  1. Terá as portas escancaradas. “Se vens por bem, fica.”

  2. Se for possível, não terá televisão. Se tiver televisão, será pequena e não estará no centro da sala.

  3. Sítio não faltará para, quem quiser, se sentar. As melhores conversas são tidas quando se está confortável.

  4. Terá um armário especial de “Coisas para visitas inesperadas”. Coisas sem as quais ninguém passa quando fica fora da sua casa (escovas de dentes, roupa interior, pijamas…)

  5. Os sapatos que andam na rua ficarão à porta; dentro de casa, só meias e chinelos. (se viver em África, nem serão precisas meias).

  6. Tentarei sempre evitar formalidades. “Não faças/tenhas cerimónias” – sempre gostei tanto desta frase, e ainda mais quando é realmente aplicada.

  7. E no dia em que tudo “estiver pronto” farei uma festa com cânticos e louvores e muitos risos; para acolher os meus e com eles partilhar tamanha concretização.

Anseio pela minha casa, e pelo reflexo que ela será dos meus propósitos; desejo que ela seja usada para Ele fazer o que Lhe aprouver. Entretanto, espero; enquanto isso, escrevo para me não esquecer, e sonho mais um bocadinho.