sexta-feira, 31 de julho de 2009

Pássaro

Abro a janela e desato num voo. Pairo, doce, sempre.
Sabe tanto a saboroso abrir as asas pelo infinito azul.
Deixo-me a planar, arrisco subir a pino e descer a pique, flutuando entre as vertigens que a prudência não me deu.

Leve, plano, sempre.

Consigo ver todos aqueles que povoam a terra que em baixo de mim vive. Ocasionalmente, há quem sinta a minha sombra rebolar sobre si, brincalhona, e me acene um cumprimento dedicado.

O meu voo prossegue, sem fim. Não descanso porque não me canso.
Viajo onde quero ir sem receios de prosseguir; sei bem que as forças não me faltarão nunca (Ele providencia).

Mantenho-me batendo asas, céu adentro, ou afora (sei lá do avesso do interminável!...)
Estou voando, para eternamente.



Ao som de:

(recomendação da Cátia)

sexta-feira, 10 de julho de 2009

"Impossible is nothing"

Quando aceitei participar no projecto que amanhã finda, fi-lo apenas para ajudar um amigo com dificuldades em encontrar quem o auxiliasse. Depois de me explicar o formato e os objectivos do Acampamento para o qual precisava de líderes, acedi em reunir-me com os restantes contactados e preparar-me devidamente para as minhas futuras funções. A primeira reunião com o grupo de trabalho não foi muito aliciante, ainda que tenha saído do local a matutar no quão simpáticas eram as pessoas com quem me cruzei. Ainda hesitei no meu íntimo, ainda questionei a minha resposta tão apressadamente afirmativa, e ainda me lembro de ter pensado que era uma loucura partir numa aventura de três semanas carregadas de criançada.

Mal sabia eu o que o Pai tinha preparado para mim. Irmãos novos, amigos novos, desafios novos, e mais um sem número de bênçãos tremendíssimas. Agora que é hora de partir, de findar o Acampamento que ficou inicialmente marcado pela minha reticência, o meu coração mimado carrega-se de saudades dos que ainda não deixei, dos momentos trocados ao longo de uma inteira semana, da partilha que se fazia em presença do Rei a cada manhã, dos sorrisos e abraços dos meninos que a pouco e pouco se foram tornando meus, da cumplicidade que nasceu a cada batalha vencida, a cada conversa tida.

Neste momento, o peito contrai-se e comporta-se contraditoriamente. Espero, ansiosa, pelo que a próxima semana trará; espero pelo próximo impossível que Ele subtilmente materializará. É que este Deus que é o meu não brinca em serviço; se já antes havia provado que se divertia a concretizar impossíveis, desta vez não foi excepção…

Até mais ver meus caros, até mais ver.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

O homem dos pés nus

Ele tinha sempre os pés descalços, sem sola, sem protecção. Todo e qualquer soalho era confortável o suficiente para prescindir de sapatos protegedores. Quando andava, ele ria sempre, sempre. Com todos os seus dentes francos (e brancos), ele inundava quem o circundava com o som envolvente do seu gargalhar-sabe-bem. Andava descalço e não se importava. As suas manias de chefe (ou dom de ser chefe?), aliadas ao 'bom feeling' do seu espírito, impediam quem quer que fosse de se aborrecer com tamanho à vontade, e mesmo quando tal impossibilidade era tentada, o assentir assertivo e sincero dos seus olhos era tal que a situação se desaborrecia automaticamente. Ele tinha sempre os pés descalços, ria muito, e tinha o coração no Céu, perto de Deus. O seu carácter inusitado emanava atracção, o seu objectivo claro puxava pela admiração, e a sua terna predisposição… bem, sabia bem; sabia a bom.

Esse homem cruzou os seus descalços pés com aquela mulher, que fechava os seus todos os dias, num par de ténis. E qual não foi o espanto do mundo quando caminharam paralelamente um ao outro, de pés desencontrados num solo estranho, e mãos dadas num ar que os levitava como se de uma bolha de sabão se tratasse (porque importava mais o abraço caminhante que davam que outra contingência qualquer…)

O mundo não está preparado para coisas como esta. Talvez precise de entender que eu não me limito a inventar histórias. Eu limito-me a relatá-las.