terça-feira, 22 de maio de 2007

' Preparação para o teste de Filosofia' (era suposto estar a estudar ao invés de tirar fotografias às folhas)


A indefinição não tem de ser um aspecto negativo, necessariamente.

Quer dizer, podem existir aspectos, factos, sentires, indefinidos… correcto?

O ser humano tem uma fixação enorme pela definição exacta de todas as coisas. O espectro sonoro, a cama, uma folha, um conjunto de partículas, o amor, o respirar, os estados do ser, o movimento de uma mão, os ossos que nos erguem, tudo, tudo, tudo é susceptível, mais!, é impregnado de definições.

Era deveras fantástico se pelo menos um dia, não fosse necessário justificar o porquê do estar cosido ou frito, não fosse necessário discutir o tempo, nem definir o modo de pensar do tão referido cérebro humano.

E isto acontece porque por vezes, não existe mesmo nenhuma explicação plausível para tais factos. Às vezes é simplesmente impossível pensar em definir, e é também bastante cáustico a tentativa (nossa ou de outrem) de o fazer.

(…)

(suspiro) O poder da melancolia inesperada é tremendo.



Um beijinho*

quinta-feira, 3 de maio de 2007

Fotografia tirada pela senhora Dona Sara Duarte (':

Morreu num dia de chuva.
Quer dizer, o dia após a sua morte, foi de chuva, chuva intensa.
O vento soprava zangado, sem receio de mostrar a sua fúria a toda a gente.
Eriçava os pelos, os cabelos, os guarda-chuvas que se dobravam à sua passagem, não duravam muito tempo.
E ele, morto. Sem um sopro sequer, sem um fôlego.
Os caracóis vagueavam demoradamente; espalhavam-se pelos passeios alheios, protegendo os seus corpos flácidos com a sua (tão frágil) carapaça, arriscando-se a serem pisados por um qualquer Ser Humano que apressadamente andasse.
E ele, morto. Sem dar um passo, sem se mover.
Todo o tempo se pôs triste e melancólico, chamou as nuvens, fê-las chorar, choraram muito! Espalhou no ar, um cheiro a frio, um cheiro sem vida, como ele, morto.
O tempo, que nesse dia estava particularmente cortante, fez com que os carros não intersectassem as poças à beira da estrada, fê-los ir para suas garagens, caso as tivessem.
Cessou os limpa-pára-brisas, arrumou as pessoas em casa.
Cada qual imprimia continuidade às suas vivências normais; despreocupados e descrentes num sentido de vida bem maior. Todos entretidos com o futebol, com a escola, com a casa, com os filhos, com os primos, com as contas.
Mas ele!... morto.
Morto, deixando uma família sem pai, deixando uma mulher sem amor, deixando um escritório sem empregado, deixando um lugar vazio na mesa.
Morto. Para sempre; porque não existia nenhuma maneira de o fazer ressurgir, depois de tantos copos de água e ondas electrocutantes que lhe tentaram imprimir.
A chuva ia ficando miudinha, deixando os cabelos frisados, como na parte má dos anúncios de shampôs. O vento ia acalmando seus ansiosos ataques de histeria.
Mas o ar, permanecia frio e sem vida.
Tal e qual como ele. Morto.
Sem escolher, sem querer morrer, sem saber!
Mas ainda assim; morto.

Um beijinho (e outro especial para a Margarida) *