sábado, 25 de novembro de 2006

APONTAMENTO

A minha alma partiu-se como um vaso vazio.
Caiu pela escada excessivamente abaixo.
Caiu das mãos da criada descuidada.
Caiu, fez-se em mais pedaços do que havia loiça no vaso.
Asneira? Impossível? Sei lá!
Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu.
Sou um espalhamento de cacos sobre um capacho por sacudir.
Fiz barulho na queda como um vaso que se partia.
Os deuses que há debruçam-se do parapeito da escada.
E fitam os cacos que a criada deles fez de mim.
Não se zanguem com ela.
São tolerantes com ela.
O que era eu um vaso vazio?
Olham os cacos absurdamente conscientes,
Mas conscientes de si mesmos, não conscientes deles.
Olham e sorriem.
Sorriem tolerantes à criada involuntária.
Alastra a grande escadaria atapetada de estrelas.
Um caco brilha, virado do exterior lustroso, entre os astros.
A minha obra? A minha alma principal? A minha vida?
Um caco.
E os deuses olham-no especialmente, pois não sabem por que ficou ali.


Álvaro de Campos, 1929
"Não se pode dissecar a alma de um poema"
(Senhor que foi à minha escola recitar poemas de Fernando Pessoa)




Beijinho

segunda-feira, 20 de novembro de 2006



'Não tenho vontade de continuar
Assim, parado, no meu lugar.
Eu quero ir para outra paragem.
Quero seguir viagem (!)

[...]

Estou tão cansado.'




Sono . Os Pontos Negros


(Beijinho)

segunda-feira, 6 de novembro de 2006



Do dia do intercâmbio



O que mais dói, a quem quer que seja, é a saudade.
Por se ter perdido alguém definitivamente ou por apenas se estar longe, saudades doem como … como chagas, ou então como a lágrima solta no ‘adeus’.

O intuito destas palavras, não é transmitir a melancolia (apesar de parecer).
Não estou efectivamente a queixar-me, estou apenas a expressar-me.

O sentimento acumula-se, e deixa o coração meio desacomodado, é bem verdade. Mas a certeza do reencontro, supera todas estas coisas.
Foi bom ter aprendido a estar grata pelo que tenho, visto que estou apenas a uns dias de distância de quem preciso de ver, para que o miocárdio permaneça intacto.

‘Uns dias’ é uma expressão deveras relativa.
E visto deste lado, já falta pouco.

(Não vos parece?)

(Texto de dia 31 de Outubro de 2006)



[ PAUSA NISTO, ATÉ QUE OS APETITES PARA POSTS VOLTEM ] (!)